*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

terça-feira, 23 de maio de 2017

Estouro da boiada

Com todo respeito, o grande Brasil está parecendo a pequena Bolívia, que teve 17 presidentes em 28 anos, três apenas em 1979 e quatro entre 2001 e 2005, até que Evo Morales assumiu em 2006 e de lá não arreda pé tão cedo. O problema brasileiro não é apenas tirar Michel Temer da Presidência, é nomear alguém que se sustente e toque as reformas até 2018. Aí, seja o que Deus quiser!

Dilma Rousseff caiu por crime de responsabilidade, inapetência política e incompetência administrativa. Temer está ‘balança-mas-não-cai’ por relações nada republicanas com bandidos milionários e agora delatores, por um partido que é ‘maria-vai-com-as-outras’ dependendo de quem paga mais e por um entorno que se dividiu em dois: uma parte tem o poder, a outra está na cadeia ou a caminho dela.

O que piora tudo é a falta de lideranças que conduzam uma saída institucional e de nomes com grandeza pessoal e política para assumir a transição, com pesadas nuvens de desconfiança sobre o colégio eleitoral – o Congresso. Sim, porque, pela Constituição, a sucessão de Temer é indireta. Gritar “diretas já” é bacana, mas não é, literalmente, legal.


Odebrecht, JBS e as grandes companhias financiarem campanhas, vá lá. Afinal, era previsto na lei vigente. Mas o que surge das delações, aos borbotões, fetidamente, é que na maioria das vezes não se tratava de financiar campanhas, mas de roubar do público, privilegiar o privado e encher as burras de homens públicos - Eliane Cantanhêde/EstadãoLeia na íntegra

segunda-feira, 22 de maio de 2017

"As primeiras impressões estão sempre certas"

No seu pronunciamento sobre o caso JBS, o presidente Temer se aproveitou bem das atitudes de Joesley e da péssima impressão que causou na opinião pública a condescendência com os irmãos Batista. Por mais que tenham feito uma delação premiada importante, não há como aceitar que estejam livres e não paguem pelo menos um pouco pelo que fizeram. Eles não viraram nossos heróis. Foi um erro e precisa ser revisto. Isso perturba, inclusive, toda a investigação da Lava-Jato, porque é um critério sem lógicaMerval Pereira para o Globo  neste domingo 21

Um dos muitos políticos citados na delação premiada do grupo JBS, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) não perdeu a oportunidade de mais uma vez se mostrar o aliado menos fiel do presidente Michel Temer (PMDB). Em nota enviada à imprensa, ele afirmou que, se Ricardo Saud “ou qualquer outro delator” lhe relatasse pagamentos de propina ou caixa 2, ele “mandaria prendê-lo” – Leia íntegra.
Enquanto isso...  O senador Renan Calheiros anda quietinho em meio à balbúrdia, mas voltará a ser notícia na próxima segunda-feira (22), quando a jornalista Monica Veloso prestará depoimento ao juiz da 14ª Vara de Justiça Federal de Brasília no processo movido contra o senador por improbidade administrativa. A ação corre paralela a outra, criminal, em curso no STF.
A acusação é a de que Calheiros pagava a pensão da filha que teve com Monica, com dinheiro recebido da empreiteira Mendes Júnior, por intermédio do lobista Cláudio Gontijo. Segundo o advogado da jornalista, Pedro Calmon, ela vai confirmar o recebimento do dinheiro pelos meios que constam na acusação. No depoimento, a ser feito por vídeo conferência, a partir das 16h, podem surgir novos nomes como intermediários do senador  - Dora Kramer/veja – Leia na íntegra

Os termos da delação do empresário Joesley Batista, dono da JBS, serão questionados por ao menos um ministro na sessão de quarta-feira do Supremo Tribunal Federal, que irá decidir se suspende o inquérito contra o presidente Michel Temer, como pede a defesa.
Temer é investigado por três crimes: corrupção passiva, obstrução à investigação e participação em organização criminosa. A dúvida é se o ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo, poderia ter concedido perdão judicial ao empresário sem ouvir o plenário da Corte.
Já havia indignação no STF com os termos do acordo fechado com Sérgio Machado, que conseguiu livrar os filhos de punição. Os benefícios dados a Joesley elevaram o tom das críticas na Corte. Já se fala em questionar outras delações.
“Não tenho notícia de acordo de delação com tantas benesses a um delator”, diz o professor de Direito da FAAP, Luiz Fernando Amaral - Andreza Matais/EstadãoCONFERE LÁ


Em seu segundo pronunciamento em dois dias, Michel Temer desqualificou o empresário Joesley Batista, a quem chamou de “conhecido falastrão exagerado” e a quem atribuiu um “crime perfeito”.
Temer pode dizer o que quiser de Joesley Batista, mas cometeu o pecado original: recebeu-o em palácio, fora da agenda, em hora avançada da noite, a sós e manteve uma conversa cordial, de amigos. Por fim, ainda celebrou o fato de que o empresário conseguiu passar na portaria do Palácio do Jaburu sem se identificar. Por que tanta deferência com um criminoso falastrão exagerado?
Mais: ao comentar as reivindicações do empresário que não foram atendidas, Temer disse que isso é “prova cabal de que meu governo não estava aberto a ele”.
O governo talvez não estivesse, mas o palácio, na calada da noite, estava - Leia na íntegra

Henrique Meirelles é um frio administrador da própria audácia. Quando diversos barões da economia recusaram convites para colaborar com o governo de Lula, ele arriscou e aceitou a presidência do Banco Central. Deu-se bem e hoje é o sonho de consumo do mercado para a sucessão de Temer.
Em 2012, aos 67 anos, tendo amealhado um patrimônio pessoal e profissional, aceitou convite de Joesley Batista e assumiu a presidência do conselho da holding que controla a JBS.
Desligou-se do grupo em 2016. Numa conversa com Temer, Batista refere-se a ele como se falasse de um vaqueiro de suas fazendas.
Meirelles esqueceu-se do famoso conselho de Oscar Wilde: "As primeiras impressões estão sempre certas" - Elio Gaspari/O Globo

O ponto

Um dia o Internacional anunciou a contratação de um grande goleiro. Um goleiro tão bom que muita gente estranhou. Como um jogador extraordinário assim acabara no Inter, e — pelo que se soube — por muito pouco dinheiro? Mais estranho ainda: o grande goleiro não pedira um grande salário. Aí alguém se lembrou de boatos que corriam sobre o jogador, que ele era um entregador de partidas, um incorrigível subornável. E concluíram que ele não se interessava pelo que ganharia no Inter, se interessava pelo que ganharia de adversários no gol do Inter, deixando passar bolas defensáveis. Se interessava pelo ponto.

São tantos os escândalos envolvendo políticos no Brasil, tanto dinheiro rolando e tantos favores sendo vendidos, que se pode pensar em mandatos e cargos públicos não como oportunidades de servir à população, mas como pontos. Quanto mais influente e destacado na hierarquia do poder, melhor localizado e lucrativo o ponto do político. E corretores de jogo do bicho, vendedores de drogas, mendigos e prostitutas sabem como é importante um bom ponto.


Pode-se até fantasiar que um dia deputados, senadores e governantes dispensarão seus salários e viverão exclusivamente de propinas, ou do que ganham nos seus pontos. O que, além de acabar com toda retórica vazia sobre razões nobres para se eleger e servir à nação, trará um grande alívio para os cofres públicos. A Odebrecht e as outras grandes empresas corruptoras se encarregariam de pagar aos políticos, para cada um de acordo com a localização do seu ponto. [...]. Luis Fernando Verissimo/O Globoleia na íntegra