“Houve uma decisão
da Casa Civil ilegítima, provisória e interina, cujo objetivo é proibir que eu
viaje. É um escândalo que eu não possa viajar para o Rio, para o Pará, para o
Ceará... isso é grave. Eu não posso, como qualquer outra pessoa, pegar um avião
(comercial). Tem de ter todo um esquema garantindo a minha segurança, pela
Constituição. É a Constituição que manda. Estamos diante de uma situação que
vai ter de ser resolvida. Eu vou viajar! Dilma Rousseff, em sua conta no Facebook
Firmino
havia ingressado na fila do transplante em novembro. Só conseguiu um coração
novo em 11 de janeiro deste ano. Debilitado pelos efeitos da doença de Chagas,
o lavrador de Santo Antônio do Descoberto, cidade goiana vizinha a Brasília,
morreu um mês depois.
-Os médicos nos diziam que o tempo de espera foi longo, que
costumava ser menor. Na situação dele, o transplante era a única possibilidade
de vida. Pelo menos estar numa fila proporcionou um tratamento melhor — diz
Diógenes Pereira, de 23 anos, o filho caçula de Firmino.
-Sei que não puderam doar os olhos e o coração da minha
filha. Não fiquei sabendo o destino de todos os órgãos, mas recebi carta de
agradecimento por ter ajudado a salvar outras vidas — diz a mãe da adolescente
morta no Paraná.
A recusa da FAB no caso de Firmino não foi fato isolado. Em
três anos, entre 2013 e 2015, a FAB deixou de fornecer aviões para o transporte
de 153 corações, fígados, pulmões, pâncreas, rins e ossos. Os órgãos saudáveis
se perderam por conta dessas negativas e da falta de outras alternativas de
transporte. [...].
O jornal [O Globo] obteve também os dias exatos em que a FAB recusou
os pedidos. Nos mesmos dias, a Aeronáutica atendeu a 716 requisições de
transporte de ministros do Executivo e de presidentes do Supremo, do Senado e
da Câmara. A média é de cinco autoridades transportadas nas asas da FAB para
cada órgão desperdiçado. Em 84 casos, ministros e parlamentares retornavam para
casa ou deixavam suas casas rumo a Brasília. Quase 4 mil caronas foram dadas
nesses voos. [...].
Não há em sistemas da FAB registros de recusas a pedidos de
transporte de autoridades. Já as negativas para transporte de órgãos
aumentaram, entre 2013 e 2015, de 52,7% a 77,5% dos pedidos feitos. Para 153
“nãos”, a instituição disse apenas 68 “sims”. [...].
A FAB é acionada nas situações mais críticas, em que não há
como usar uma rota comercial e nos casos de tempos de isquemia curtos. Este é o
prazo máximo possível entre a extração do órgão do doador e o enxerto no
receptor. Para o coração e o pulmão, são quatro horas. A CNT sempre aciona a
FAB nos casos de oferta de coração. Se não há receptor no estado onde o órgão
foi doado — a fila de espera é nacional — a central tenta fazer o coração
chegar a outras regiões. Dos 435 pacientes que entraram na lista do coração em
2015, 145 (33,3%) morreram. Clique
aqui e leia a reportagem do Globo na íntegra
Aliás e a propósito
- A Aeronáutica vive o milagre da multiplicação de jatos e jatinhos e tornou-se
um exemplo da barafunda e mais um ótimo motivo para o Senado resolver logo o
impeachment. Se é para Dilma Rousseff voltar, que volte logo. Se é para Michel
Temer assumir de fato e de direito, que seja logo também. O que não pode é
esticar essa indefinição, essa insegurança, essa bola dividida.
A presidente afastada não pode sair voando em avião militar
para fazer comício sobre um golpe que não há, mas tem direito a avião para sua
casa em Porto Alegre. O interino pode ir a São Paulo e para onde bem entender,
já que está “em exercício” e cumpre agenda oficial. Além dos dois, a FAB
carrega dois fardos da Câmara, o presidente interino Waldir Maranhão e o
afastado Eduardo Cunha. Só para a São Luís de, e do, Maranhão, são 2 horas e
meia na ida e na volta todo fim de semana.
Sem falar que o advogado-geral da União, Fábio Osório,
exigiu um avião para ir a um evento em Curitiba e, como não tinha, ligou às 15h
diretamente para o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato,
dizendo que precisava decolar às 16h. Não havia Legacy disponível no GTE (Grupo
de Transporte Especial, que serve a autoridades) e Rossato teve de recorrer a
um Learjet do 6.º ETA (Esquadrão de Transporte Aéreo), que tem menos status,
mas era mais do que suficiente... Por Eliane Cantanhêde/Estadão – Leia
na íntegra