A conjugação de
crise política com severa turbulência econômica gera um
rastro de mazelas de toda ordem, mas serve ao menos para instigar a sociedade a
enfrentar distorções com a finalidade de evitar que tudo não se repita. Até por
uma questão de sobrevivência. No caso do Brasil, se nada for feito para abortar
a tendência de aumento autônomo de gastos públicos engessados em regras que
obrigam o administrador a destinar boa parte do Orçamento para setores
específicos, e se for mantida a indexação de parcela ponderável das despesas, a
insolvência do Tesouro é certa. Com todas as implicações dessa quebra:
hiperinflação, recessão profunda, desemprego ainda mais assustador. [...].
Artigo dos
economistas José Márcio Camargo e André Gamerman, publicado recentemente no
GLOBO, mostrou, em números, como aposentadorias e pensões também funcionam como
um instrumento de canalização de renda para fatias minoritárias da população.
Os economistas
registram que se um casal de idosos tiver uma aposentadoria de R$ 1.270 cada
um, o valor médio dos benefícios, a soma da renda dos dois os coloca no extrato
dos 20% mais ricos do país. O disparate aumenta quando se considera a
aposentadoria média de um servidor público federal: R$ 9 mil, ou mais de sete
vezes o que recebe o aposentado do setor privado. Juntos, segundo o artigo,
aposentados do INSS e do serviço público são 16,3% da população brasileira, mas
absorvem 54% do Orçamento.
Por diversas
razões — o poder de corporações sindicais e outras —, um país com ainda uma
grande proporção de jovens dá prioridade a despesas com os mais idosos e,
portanto, deixa em segundo plano a educação básica, por exemplo. Estatísticas
como estas ajudam a esclarecer quem são mesmo os que gritam nas ruas contra a
reforma da Previdência – Editorial do Globo neste domingo 26
-Esse EDITORIAL é tendencioso, pois camufla uma armadilha pra pegar patos. Confira
abaixo:
Os devedores da
Previdência Social acumulam uma dívida de R$ 426,07 bilhões,
quase três vezes o atual déficit do setor, que foi cerca de R$ 149,7 bilhões no
ano passado. Na lista, que tem mais de 500 nomes, aparecem empresas públicas,
privadas, fundações, governos estaduais e prefeituras que devem ao Regime Geral
da Previdência Social. O levantamento foi feito pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional, responsável pela cobrança dessas dívidas. Enquanto propõe que
o brasileiro trabalhe por mais tempo para se aposentar, a reforma da
Previdência Social ignora os R$ 426 bilhões que não são repassados pelas
empresas ao INSS. [...].
“O governo fala
muito de déficit na Previdência, mas não leva em conta que o problema da
inadimplência e do não repasse das contribuições previdenciárias ajudam a
aumentá-lo. As contribuições não pagas ou questionadas na Justiça deveriam ser
consideradas”, afirma Achilles Frias, presidente do Sindicado dos
Procuradores da Fazenda Nacional.
A maior parte
dessa dívida está concentrada na mão de poucas empresas que estão ativas.
Somente 3% das companhias respondem por mais de 63% da dívida previdenciária...
A grande maioria, ou 82%, são ativas... Na lista das empresas devedoras da
Previdência, há gigantes como Bradesco, Caixa Econômica Federal, Marfrig [empresa processadora de
alimentos à base de carnes bovina, suína, de aves e peixes], JBS [leia Friboi e Swift] e Vale. Apenas essas
empresas juntas devem R$ 3,9 bilhões, segundo valores atualizados em
dezembro do ano passado. Clique
aqui e acesse a lista dos 500 maiores devedores da Previdência
–Não é preciso esclarecer quem são os patos, né mesmo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário