*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

sexta-feira, 3 de julho de 2015

ESPECIAL: Sobre esquizofrenia, cinismo e outras realidades

Sempre que os sábios do Fundo Monetário Internacional opinam sobre a economia brasileira são ouvidos com reverência. Tudo bem, mas outro dia sua diretora-executiva, a elegantérrima Christine Lagarde, viajou no teleférico do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, e disse o seguinte: “Estou me sentindo numa estação de esqui.” Aquilo era algo “só visto nos Alpes”.
lA doutora conhece as estações de esqui dos Alpes, e os brasileiros conhecem o morro do Alemão. Para juntar as duas coisas, é necessário soltar algum parafuso da cabeça. Madame Lagarde estava diante de outra realidade, mais instrutiva, mas não a viu.
lO teleférico do Alemão tem 3,5 quilômetros de extensão e custou R$ 210 milhões. Foi inaugurado por Lula em 2010 e pela doutora Dilma em julho de 2011. Em nenhuma das duas ocasiões estava operando para os moradores da região. Quando o serviço começou, era inacessível para quem devia chegar ao trabalho às 8h da manhã. Um mês antes da visita da doutora aos Alpes cariocas, o serviço do teleférico fora suspenso por 20 dias. Ao ser restabelecido, a operação que começava às 6h foi pedalada para as 8h da manhã. Os repórteres Rodrigo Bertolucci e Luiz Gustavo Schmitt mostraram que o teleférico está numa vala da burocracia. O governo do Estado atrasou o pagamento de dois repasses mensais de R$ 3,2 milhões à empresa concessionária e, como o contrato está prestes a vencer, alguns funcionários foram desmobilizados.
lUm teleférico dos Alpes que começa a rodar às 8h da manhã pode ser ótimo para quem vai esquiar, mas esqueceram de contar à doutora que essa é a hora em que a turma do Alemão precisa estar no trabalho. O governo do Rio diz que a partir de amanhã restabelece o horário antigo. Tomara que Madame Lagarde entenda de economia. Elio Gaspari/O Globo - CONFIRA

Gôndolas e vidros quebrados, grama sem poda, elevadores parados, falta de limpeza e até catracas abertas sem fiscalização. Ninguém paga mais pelo bilhete. Esses são os principais problemas enfrentados, há pelo menos dois meses, pelos mais de 12 mil passageiros do teleférico que cruza as favelas do Complexo do Alemão. Prestes a completar quatro anos, a realidade do sistema já é bem diferente de quando foi inaugurado com todas as honras pela presidente Dilma Rousseff, em julho de 2011.
lReconhecido como um símbolo do novo momento do conjunto de favelas, onde as Forças de Pacificação se instalaram em novembro de 2010, o sistema está em estado de abandono a poucos dias do fim do contrato entre o governo estadual e a SuperVia, que vai até o dia 7 de julho. A empresa, que recebe R$ 3, 2 milhões mensais pela operação e manutenção, não recebeu os repasses de dezembro e abril.
lResponsável pela administração das 152 gôndolas, a SuperVia admite ter desmobilizado sua equipe de funcionários. Porém, a empresa garante que não inviabilizou a qualidade e a segurança operacional do teleférico. Essa não é a opinião de moradores que utilizam o transporte diariamente. “É triste. Foi tanto dinheiro investido para mudar o estigma de pobreza do complexo. E, agora, parece que esqueceram de tudo”, afirma o artesão Cléber Araújo morador do Complexo do Alemão. CONFIRA
Pesquisa Q&M: O primeiro teleférico a virar cartão postal de uma favela no Brasil, o do Complexo do Alemão, foi construído com recursos do PAC e em parceria com os governos federal e estadual ao custo de R$210 milhões. A SuperVia, empresa que “administra” o teleférico, é controlada pela Odebrecht TransPort.
Mas vai melhorar: Celebrado por muitos, imitado por outros e motivo de chacota para tantos, o sotaque carioca está prestes a se tornar patrimônio imaterial da cidade do Rio de Janeiro. Projeto apresentado em 2013 pelo ex-prefeito e atual vereador Cesar Maia (DEM) foi aprovado pela Câmara há uma semana e agora está com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), para sanção ou veto. CONFIRA