Sempre
que os sábios do Fundo Monetário Internacional opinam sobre a economia
brasileira são ouvidos com reverência. Tudo bem, mas outro dia sua
diretora-executiva, a elegantérrima Christine Lagarde, viajou no teleférico do
Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, e disse o seguinte: “Estou me sentindo numa
estação de esqui.” Aquilo era algo “só visto nos Alpes”.
lA doutora conhece as estações de esqui dos Alpes, e
os brasileiros conhecem o morro do Alemão. Para juntar as duas coisas, é
necessário soltar algum parafuso da cabeça. Madame Lagarde estava diante de
outra realidade, mais instrutiva, mas não a viu.
lO teleférico do Alemão tem 3,5 quilômetros de
extensão e custou R$ 210 milhões. Foi inaugurado por Lula em 2010 e pela
doutora Dilma em julho de 2011. Em nenhuma das duas ocasiões estava operando
para os moradores da região. Quando o serviço começou, era inacessível para
quem devia chegar ao trabalho às 8h da manhã. Um mês antes da visita da doutora
aos Alpes cariocas, o serviço do teleférico fora suspenso por 20 dias. Ao ser
restabelecido, a operação que começava às 6h foi pedalada para as 8h da manhã.
Os repórteres Rodrigo Bertolucci e Luiz Gustavo Schmitt mostraram que o
teleférico está numa vala da burocracia. O governo do Estado atrasou o
pagamento de dois repasses mensais de R$ 3,2 milhões à empresa concessionária
e, como o contrato está prestes a vencer, alguns funcionários foram
desmobilizados.
lUm teleférico dos Alpes que começa a rodar às 8h da
manhã pode ser ótimo para quem vai esquiar, mas esqueceram de contar à doutora
que essa é a hora em que a turma do Alemão precisa estar no trabalho. O governo
do Rio diz que a partir de amanhã restabelece o horário antigo. Tomara que
Madame Lagarde entenda de economia. Elio Gaspari/O
Globo - CONFIRA
Gôndolas e vidros quebrados, grama sem poda, elevadores
parados, falta de limpeza e até catracas abertas sem fiscalização. Ninguém paga
mais pelo bilhete. Esses são os principais problemas enfrentados, há pelo menos
dois meses, pelos mais de 12 mil passageiros do teleférico que cruza as favelas
do Complexo do Alemão. Prestes a completar quatro anos, a realidade do sistema
já é bem diferente de quando foi inaugurado com todas as honras pela presidente
Dilma Rousseff, em julho de 2011.
lReconhecido como um
símbolo do novo momento do conjunto de favelas, onde as Forças de Pacificação
se instalaram em novembro de 2010, o sistema está em estado de abandono a
poucos dias do fim do contrato entre o governo estadual e a SuperVia, que vai
até o dia 7 de julho. A empresa, que recebe R$ 3, 2 milhões mensais pela
operação e manutenção, não recebeu os repasses de dezembro e abril.
lResponsável pela
administração das 152 gôndolas, a SuperVia admite ter desmobilizado sua equipe
de funcionários. Porém, a empresa garante que não inviabilizou a qualidade e a
segurança operacional do teleférico. Essa não é a opinião de moradores que
utilizam o transporte diariamente. “É
triste. Foi tanto dinheiro investido para mudar o estigma de pobreza do
complexo. E, agora, parece que esqueceram de tudo”, afirma o artesão Cléber
Araújo morador do Complexo do Alemão. CONFIRA
Pesquisa Q&M: O primeiro teleférico a virar cartão postal
de uma favela no Brasil, o do Complexo do Alemão, foi construído com recursos
do PAC e em parceria com os governos federal e estadual ao custo de R$210
milhões. A SuperVia, empresa que “administra” o teleférico, é controlada pela
Odebrecht TransPort.
Mas vai melhorar: Celebrado por muitos,
imitado por outros e motivo de chacota para tantos, o sotaque carioca está
prestes a se tornar patrimônio imaterial da cidade do Rio de Janeiro. Projeto
apresentado em 2013 pelo ex-prefeito e atual vereador Cesar Maia (DEM) foi
aprovado pela Câmara há uma semana e agora está com o prefeito Eduardo Paes
(PMDB), para sanção ou veto. CONFIRA