“O que eu
combinei com o Palocci foi o seguinte: essa é uma relação minha com a
presidência do PT no Brasil. Então, eu disse: vai mudar o governo, vai entrar a
Dilma [Rousseff]. Esse saldo passa a ser gerido por ela, a pedido dela. A gente
sabia que ia ter demandas de Lula, a questão do instituto, para outras coisas.
Então vamos pegar e provisionar uma parte desse saldo, aí botamos R$ 35 milhões
no saldo 'amigo', que é Lula, para uso que fosse orientação de Lula"
- Marcelo Odebrecht em uma das suas delações premiadas
O Porto de
Mariel, em Cuba, a Arena Corinthians, em São Paulo, o
Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, a Usina Hidrelétrica de Jirau, em
Rondônia, a criação da Sete Brasil. Cresce a lista de projetos que teriam
nascido para alimentar o esquema de pagamentos ilegais acertado entre políticos
e executivos da Odebrecht, segundo depoimentos de sócios e ex-executivos da
companhia ao Ministério Público Federal (MPF). São custos vultosos — Jirau, que
não foi construída pela Odebrecht, custou R$ 19 bilhões — que poderiam ter sido
reduzidos ou nem realizados não fossem as negociações focadas no repasse de
propinas.
O economista
Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, destaca que a perda anual em
decorrência dessas transações ilícitas é bilionária.
-O TCU tem um estudo que mostra que o
sobrepreço médio cobrado nas obras de infraestrutura no Brasil é de 17%. Essa
fatia representa apenas as perdas diretas. É um enorme volume de investimentos
que, até hoje, não se transformou em ativos produtivos. São ganhos adiados
— afirma ele. [...]. Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial,
pondera que, ainda que as informações trazidas à tona pelas delações da
Odebrecht impressionem, são de apenas uma empresa: Não dá para ter ideia da extensão do dano. A naturalidade com que os delatores
descrevem as negociações é assustadora – CONFERE
LÁ
No mais... “Apenas
parte dos valores movimentados no esquema de corrupção dos três últimos governos,
revelado por delações de executivos da empreiteira Odebrecht, poderia ter
servido para custear obras fundamentais para o país. Levantamento do Correio
[Correio Braziliense], com base em inquéritos abertos pelo relator da Lava Jato
no STF, Edson Fachin, e outros processos remetidos a instâncias inferiores, o
esquema de corrupção da empreiteira pagou pelo menos R$ 450 milhões a políticos
em forma de caixa 2 ou propinas. Com esse valor, seria possível, por baixo,
custear 130 mil vagas em creches ou abrir 394 Unidades de Pronto-Atendimento
(UPAs), por exemplo” – Enviado por Cacau Quil – Leia
na íntegra
Entre as suas
várias modalidades de “doações”, a benemérita Odebrecht
usava uma bastante direta e objetiva: servia para comprar emendas ou a própria
redação de Medidas Provisórias, que são editadas pelos governos e votadas pelo
Congresso Nacional. As chamadas MPs se transformaram numa espetacular fonte de
renda para os políticos brasileiros e isso não tem obrigatoriamente a ver com
eleição. [...].
Isso é
desmoralizante, desanimador, irritante, enojante, porque a sociedade brasileira
já não sabe mais se as medidas editadas pelos sucessivos governos eram de fato
“relevantes e urgentes” para o País e seus cidadãos, ou se eram convenientes
para grandes corruptores e uma galinha dos ovos de ouro para corruptos. O que
Emílio e Marcelo Odebrecht, além de seus executivos, vêm ensinando sobre esse
universo de corrupção pode ser estendido, mundo afora, para as empreiteiras,
como OAS, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão. E também para os
mais variados setores, de produção de carnes (já na Operação Carne Fraca) a
bancos (uma Lava Jato à parte)...
A força-tarefa
da Lava Jato não parece interessada na delação de um Eduardo Cunha em troca de
amenizar sua pena, mas certamente está se coçando pelo que têm a dizer João
Santana e Mônica Moura e, particularmente, Antonio Palocci. Além de jararacas,
jacarés e crocodilos, virão muitas outras cobras e lagartos.
Nem todo juiz é
um Sérgio Moro, nem toda primeira instância é igual às de Curitiba, DF e Rio,
mas a tendência é que a Lava Jato produza muitas Lavajatozinhas. Aliás, nem
sempre no diminutivo. No Rio, o insaciável Sérgio Cabral e sua quadrilha não
devem nada, em valores ou falta de pudor, ao que já vimos na investigação-mãe.
E, para quem acha que já viu tudo, grandes revelações ainda surgirão – Eliane Cantanhêde/Estadão
- Leia
na íntegra
O gráfico do fim
do mundo
O empresário Marcelo
Odebrecht revelou em depoimento que a empreiteira
chegou a perder o controle do esquema de corrupção revelado pela Operação Lava
Jato e descobriu que houve roubo interno no Departamento de Operações
Estruturadas, conhecido como 'setor de propina'. Depois do desvio de mais de US$
3 bilhões entre 2006 e 2014, a Odebrecht identificou prejuízos no caixa do
departamento, abastecido com o desvio de dinheiro público. O valor desviado
internamente não foi revelado por Marcelo Odebrecht.
"Tanto é assim que a gente foi descobrir
agora quanto de roubo interno que havia. Por quê? Porque, se esse tipo de de
controle existisse por alguém, nós teríamos discutido a quantidade de desvio
interno que houve. Ou seja, as pessoas que faziam desvio interno se
beneficiavam justamente do fato de que não havia nenhum tipo de controle",
afirmou Marcelo em depoimento que faz parte do acordo de delação premiada.
-Dá pena né não? Deve ser frustrante para um empresário que investiu tanto pra
manter uma das maiores redes de corrupção do mundo descobrir que foi roubado
por seus pares. É o submundo do submundo.
A Odebrecht
informou na sua delação premiada que só pôs fim aos
pagamentos de propina e caixa dois feitos pela empresa mais de um ano após o
início da Operação Lava Jato. O patriarca da empreiteira, Emílio Odebrecht,
contou ao Ministério Público Federal que deu ordens para acabar com repasses
ilícitos somente após a prisão do filho Marcelo, então presidente do grupo, em
junho de 2015.
Com a detenção
do filho, Emílio voltou ao comando do grupo. A determinação, segundo ele, foi
de paralisar inclusive pagamentos atrasados. Ele mencionou um episódio
envolvendo o marqueteiro Duda
"Quando eu,
logo uma semana depois [da prisão de Marcelo Odebrecht], oficializava a entrada
no Newton [de Souza] como presidente substituindo o Marcelo e ao mesmo tempo
definia uma série de regras dentro da organização foi que daí para frente
terminou o caixa dois, zerava, os compromissos que existiam morreram, [a ordem era]
desfazer tudo, não existe mais", afirmou Emílio.
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