“Preso na
Operação Lava Jato desde 3 de agosto de 2015, o
ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula) relatou em longa carta sua
rotina no Complexo Médico-Penal, em Pinhais, região metropolitana de Curitiba.
A mensagem foi enviada a amigos do petista” - Abaixo
transcrevemos trechos da carta de Dirceu:
Espelho é proibido. Vidro também. Então, pegue um prato
grande que reflita sua imagem – e mantenha ele limpo sempre. Água mineral? Só
com receita médica. A solução é ferver a água ou tomá-la “in natura” da
torneira. Eu nunca tive problemas.
Saúde? É fácil cuidar. Bebida, cigarro, gordura, ou é
proibido ou não existe simplesmente. Você pode pedir comida hipossódica e
evitar excessos na sexta-feira, quando as famílias de todos os presos podem
trazer comida. Embora o peso seja controlado. Nada que possa virar cachaça – a
revista é rigorosa.
O preso deve fazer exercícios todos os dias. No meu caso,
71 anos, é light... É importante tomar sol ou ingerir vitamina D – para mim, a
recomendação é de 20 minutos diários. O banho de sol é de cinco dias por
semana, mas na média são três por conta de chuva, normas de segurança, etc. No
mais, é ler, estudar e escrever, um pouco de tudo. Aqui tem biblioteca – e é
boa...
Preso primeiro chora, depois chama a mãe e seus santos, e
faz remissão. Cada três dias trabalhados valem um dia de pena cumprida; cada
livro lido e resenhado vale mais quatro dias; cada 12 de estudo, um dia de
remissão. Assim, em 12 meses, o preso pode remir seis meses, cinco em geral...
A luta do preso é para viver na cadeia “uma vida normal”,
de rotina, dormir sem indutor do sono, as horas necessárias, trabalhar oito
horas — e ter horas de lazer, de convivência comum. Para os jogos – dominó e
xadrez –, futebol, exercícios e caminhadas, agregar “conversa fiada”, contar
estórias, falar da família, da vida, dos processos, dos amores proibidos, da
liberdade… dos filhos e esposas.
Preso tem que manter cela, corredor e banheiros coletivos
limpos, duas vezes por semana; tem que lavar as cuecas (a roupa é lavada na
lavanderia do presídio). Preso pode receber material de higiene pessoal e de
limpeza – um Sedex com o básico de uma cesta familiar, observando as questões
de segurança. Tudo de que um preso precisa para sobreviver. Os itens são
básicos mesmo, nada de supérfluos.
A comida é simples, mas suficiente. No café da manhã,
café com leite, pão e manteiga. No almoço e na janta, feijão (pouco, ou porque
azeda ou porque está caro), muito arroz, carne e legumes. De carne, só frango –
peito! – ou carne de vaca moída ou em tiras. Ninguém pode dizer que a comida
não é honesta. Dá pra sobrevier – e bem. O problema é a mesma comida meses,
anos… Mas a comida que a família traz, às sextas feiras, dia de visita, resolve
a monotonia. Todas as sextas feiras, das 13 e 30 às 16 horas, preso recebe
visita da família – duas pessoas. Na verdade, é o único momento em que o preso
sente a liberdade, o afeto, o amor e a esperança – Clique
aqui e leia na íntegra da carta de José Dirceu
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