Durante o
período republicano da Roma Antiga, os Exércitos
encontravam no Rio Rubicão, a nordeste da Península Itálica, o limite que não
deveriam transpor. Mas o grande general Júlio César violou essa regra em 49
a.C. Ele cruzou o famoso rio com a sua tropa, em busca de poder e glória. Nessa
empreitada, registra a história que teria dito a célebre frase: "Álea
jacta est"("A sorte está lançada"). De fato, a sorte final da
República romana definiu-se naquele ato: o fim chegou para a forma de governo
que vigia na Roma de Júlio César, que morreu assassinado.
Teria também a
Operação Lava-Jato cruzado o seu Rubicão? Não é novidade dizer que a Lava-Jato
vive momentos cruciais. Mas é importante destacar que há um problema iminente.
As ameaças contra a investigação miram muito além da própria operação. Ficou
claro até aqui que, para assegurar o estado de impunidade aos agentes do
sistema corrompido, não é suficiente des-construir o trabalho investigativo do
Ministério Público. F. preciso também minar a credibilidade das instituições
engajadas no combate à corrupção.
O cerco à
Lava-Jato vai-se fechando à medida que a operação pavimenta caminhos para que
outras investigações percorram o mesmo roteiro de sucesso. Simultaneamente,
parece que um certo arrefecimento da mobilização popular em relação à Lava-Jato
e ao combate à corrupção fez com que surgisse a esperada fenda na couraça
social que se erigiu em torno do trabalho de procuradores, delegados e
auditores. Alguns poucos atos polêmicos ocorridos na trajetória das
investigações, somados ao desespero de quem se sente acuado, abriram caminho
para a desconstrução do trabalho da Lava-Jato.
Por Danilo Pinheiro Dias, procurador regional da República
e coordenador da assessoria criminal da Procuradoria-Geral da República -
Trechos da matéria publicada na Revista Veja sob o título “A Lava-Jato e o seu
Rubicão”.
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