Há
seis anos, a Coreia do Sul tentou instaurar a chamada Lei da Cinderela, espécie
de toque de recolher para adolescentes, proibindo da meia-noite às 6h os jogos
virtuais. Estava formado o pandemônio: crianças abriram o berreiro,
adolescentes fizeram “esquemas hacker” para dar suas tecladelas por meio de
servidores ocidentais, companhias ameaçaram bloquear todas as contas, e os pais
processaram o governo em nome da tão prezada liberdade de jogar. Mas por que um
país que tem o videogame tão enraizado na cultural nacional — por lá, partidas
são exibidas em canais abertos, em horário nobre, fazendo de alguns jogadores
ídolos da pátria — queria tomar um atitude tão impopular? Bom, cerca de 90% dos
sul-coreanos têm internet banda larga, o que, consequentemente, criou um
problema de saúde pública. Não é um caso isolado.
Na mesma época, na China, havia dez milhões de viciados em
internet e 400 centros de reabilitação. O psicólogo Cristiano Nabuco, que
coordena o Núcleo de Dependências Tecnológicas da USP, ajuda a entender. Ao nos
conectarmos, nosso cérebro reage de forma semelhante ao de alguém que consome
algum tipo de droga. Sabe-se que, depois de oito minutos, uma dose considerável
de dopamina — neurotransmissor ligado à sensação de prazer — começa a ser
liberada. Este é o aspecto bioquímico. Mas há ainda o psicológico. — À medida
que você se envolve, buscando essa sensação renovada de euforia, você se
anestesia dos aspectos negativos do seu entorno.
É um Prozac virtual. A pessoa consegue ser alguém que não
pode ser na vida real, então se isola. É um mundo paralelo, movido a doses de
dopamina na veia de oito em oito minutos. Tenho paciente que fica 60 horas sem
sair do computador. Quer mais?
Dos problemas desta geração internet, ainda há o sleep
texting (sonâmbulo que responde mensagens e até faz compras pela internet), o
cibercondríaco e o Google effect, que deixa o nosso cérebro mais “preguiçoso”.
Confiamos que iremos achar qualquer coisa na internet, então não retemos mais
as informações. — A consolidação da memória acontece à noite, quando o
organismo desacelera, liberando melatonina. Quando você fica no computador até
tarde, as células dos olhos mandam informação de que ainda há luz. Por isso,
seu corpo não consegue entrar no sono profundo, o REM, em que se consolida tudo
o que você aprendeu. Primeiro bloco da
reportagem “Nossa Maluquez”, de Natasha Mazzacaro, pulicada na REVISTA O
GLOBO/Jornal O Globo no domingo 28