*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

terça-feira, 6 de setembro de 2016

A internet e os seus prozacs virtuais

Há seis anos, a Coreia do Sul tentou instaurar a chamada Lei da Cinderela, espécie de toque de recolher para adolescentes, proibindo da meia-noite às 6h os jogos virtuais. Estava formado o pandemônio: crianças abriram o berreiro, adolescentes fizeram “esquemas hacker” para dar suas tecladelas por meio de servidores ocidentais, companhias ameaçaram bloquear todas as contas, e os pais processaram o governo em nome da tão prezada liberdade de jogar. Mas por que um país que tem o videogame tão enraizado na cultural nacional — por lá, partidas são exibidas em canais abertos, em horário nobre, fazendo de alguns jogadores ídolos da pátria — queria tomar um atitude tão impopular? Bom, cerca de 90% dos sul-coreanos têm internet banda larga, o que, consequentemente, criou um problema de saúde pública. Não é um caso isolado.
Na mesma época, na China, havia dez milhões de viciados em internet e 400 centros de reabilitação. O psicólogo Cristiano Nabuco, que coordena o Núcleo de Dependências Tecnológicas da USP, ajuda a entender. Ao nos conectarmos, nosso cérebro reage de forma semelhante ao de alguém que consome algum tipo de droga. Sabe-se que, depois de oito minutos, uma dose considerável de dopamina — neurotransmissor ligado à sensação de prazer — começa a ser liberada. Este é o aspecto bioquímico. Mas há ainda o psicológico. — À medida que você se envolve, buscando essa sensação renovada de euforia, você se anestesia dos aspectos negativos do seu entorno.
É um Prozac virtual. A pessoa consegue ser alguém que não pode ser na vida real, então se isola. É um mundo paralelo, movido a doses de dopamina na veia de oito em oito minutos. Tenho paciente que fica 60 horas sem sair do computador. Quer mais?

Dos problemas desta geração internet, ainda há o sleep texting (sonâmbulo que responde mensagens e até faz compras pela internet), o cibercondríaco e o Google effect, que deixa o nosso cérebro mais “preguiçoso”. Confiamos que iremos achar qualquer coisa na internet, então não retemos mais as informações. — A consolidação da memória acontece à noite, quando o organismo desacelera, liberando melatonina. Quando você fica no computador até tarde, as células dos olhos mandam informação de que ainda há luz. Por isso, seu corpo não consegue entrar no sono profundo, o REM, em que se consolida tudo o que você aprendeu. Primeiro bloco da reportagem “Nossa Maluquez”, de Natasha Mazzacaro, pulicada na REVISTA O GLOBO/Jornal O Globo no domingo 28