*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Supremas esperanças

"A corrupção traduz um gesto de perversão da ética do poder e de erosão da integridade da ordem jurídica, cabendo ressaltar que o dever de probidade e de comportamento honesto e transparente configura obrigação cuja observância impõe-se a todos os cidadãos desta República que não tolera o poder que corrompe nem admite o poder que se deixa corromper"
"O direito ao governo honesto constitui uma insuprimível prerrogativa da própria cidadania. E que, deste tribunal, senhora ministra presidente, parta a advertência severa e impessoal de que aqueles que transgredirem tais mandamentos expor-se-ão sem prejuízo de outros tipos de responsabilização, não importando a sua posição estamental, se patrícios ou se plebeus [...] devendo ser punidos exemplarmente na forma da lei esses infiéis da causa pública, esses indignos do poder"

"A vida pública brasileira será também fiscalizada pelos cidadãos. Do presidente da República ao prefeito, do senador ao vereador. A moral é o cerne da Pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos, que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública", disse Guimarães [Ulysses Guimarães]” - Trechos do discurso de Celso de Mello, na posse de Cármen Lúcia, segunda (12), no STF.

Até que os discursos inflamados e empolados do decano Celso de Mello impressionam com sua retórica de combate implacável à corrupção e aos “marginais da República”. E, no entanto, quando foi julgada a decretação da prisão depois de condenação por colegiado em segunda instância, fundamental no real combate à impunidade, o ministro votou contra a maioria do STF. Em nome da presunção de inocência, quem tem dinheiro e bons advogados consegue arrastar seus processos até a prescrição.
E os “marginais da República”? Renan Calheiros tem 12 processos no STF, entre eles o que acusa o lobista de uma empreiteira de pagar a pensão de sua filha fora do casamento, que se esconde há sete anos no Supremo, e ninguém sabe por que até agora não foi julgado. O que pode fazer a presidente Cármen Lúcia sobre isso? O que podem os demais ministros? Quem está segurando este processo e por quê? Sete anos não são suficientes para formar um juízo e levar a julgamento? Não há discurso jurídico que explique isto, só a baixa política... Como são justos! E probos! E poderosos! Como são supremos! Basta observar-lhes a expressão corporal, o prazer em ouvir a própria voz em discursos intermináveis recheados de termos eruditos... Com a falência do governo Dilma e a desmoralização do Congresso com Eduardo Cunha, o Judiciário ganhou o protagonismo da cena política. Mas discursos não bastam: dois anos de Lava-Jato, e o STF ainda não julgou nenhum político. Por Nelson Motta/O GloboLeia na íntegra