Ressentido e com a faca nos dentes, Eduardo Cunha bancará no livro
que promete lançar em dezembro que o impeachment de Dilma Rousseff foi um
"golpe parlamentar".
Antes que os petistas se animem
por ter encontrado um companheiro para gritar contra o "golpe", um
alerta: o notório deputado cassado sustentará que foi exatamente o que
aconteceu com Fernando Collor, em 1992 — um "golpe parlamentar", mas
com o apoio incondicional do PT.
Neste livro, o objetivo é
fustigar o governo Temer. Interlocutores de Cunha relatam que o ex-deputado
está dividindo o jogo entre "eu" e "eles".
A propósito, Cunha não vai
escrever um, mas dois livros. O segundo, que ele pretende lançar no início de
2017, já tem até nome, "Delação não premiada". Nesse, promete contar
tudo sobre os seus desafetos e proteger sua turma.
A interlocutores diz que já
separou sua agenda de compromissos dos últimos anos e afiou sua (boa) memória
para contar histórias pouco republicanas, dando o nome aos bois.
Nem é preciso dizer que os 67
deputados (a soma dos que votaram contra a sua cassação mais os que abstiveram
e os que não tiveram a coragem de pisar na Câmara para votar) que ficaram com
ele até o fim contarão com largos lapsos de sua memória para ações heterodoxas
de que tenham participado.
Cunha recebeu "nãos" de
várias editoras com quem quis negociar. Com três, contudo, foram iniciadas
conversas — Planeta, Geração e Matrix.
Só que um ponto emperra o
fechamento de qualquer contrato, por enquanto. Cunha, que nunca pôde ser
acusado de pensar pequeno, pede um adiantamento de estratosféricos R$ 1 milhão
de reais e mais 20% sobre cada livro vendido.
Qual o problema? Tal adiantamento
está completamente fora da realidade do mercado editorial brasileiro. Mais: o
percentual sobre o preço de capa varia entre 10% e 15%. O que Cunha pede neste
quesito nem J. K. Rowling, autora de Harry Potter, recebe.
Desconfiado, Eduardo Cunha não
conta aos editores com quem negocia que bombas explodirá nos dois livros.
Mostra apenas uma vaga
apresentação de quatro páginas do que pretende fazer. Há também um problema
adicional para a publicação desse segundo volume: se Cunha for em cana,
dificilmente o livro sairá.
A razão é óbvia. Se for preso, é
improvável que não faça uma delação premiada. E não há chance de uma delação
ser compatível com um livro de revelações, ao menos neste primeiro momento. Lauro Jardim/O
Globo, domingo 25