Um dia depois da prisão de Eduardo
Cunha, o presidente Michel Temer deu uma declaração sobre o assunto, por
meio do seu porta-voz.
Disse o porta-voz: "A agenda
política, de recuperação e reconstrução do Brasil, não se confunde com
investigações levadas adiante pela Justiça. Na Operação Lava-Jato, relacionada
à Justiça, o Executivo jamais interferirá em suas decisões."
Michel Temer, que estava no
Japão, antecipou a sua volta ao Brasil por causa da prisão de Eduardo Cunha,
prova maior de que a agenda política confunde-se, sim, com a Lava Jato. Aliás,
a Lava Jato é A agenda política do Brasil. O futuro de PMDB, PT, PP e PSDB,
assim como o de próceres seus, depende do que virá das delações e investigações
em andamento.
Ou seja, a nota não traduz a
verdade. E ao misturar na mesma frase "recuperação e reconstrução do
Brasil" com Lava Jato, para implicitamente colocar-se como fiador da estabilidade,
Michel Temer deixou os medrosos do mercado ainda mais sobressaltados.
Resultado: lá está a Standard & Poor's soltando gritinhos como um porquinho
assustado com o Lobo Mau. Quem confundiu tudo foi o presidente.
Os medrosos do mercado precisam entender
que, neste momento, nenhum político pode afirmar que é fiador de nada. E que,
se há chance de o Brasil sair do atoleiro, é porque existe Lava Jato. Com o
apoio dos cidadãos de bem, ela está derrubando um a um os maiores corruptos da
nossa história — fator essencial para que o capitalismo de verdade substitua as
espúrias relações de compadrio que infeccionam a nossa economia. Como já
escrevemos no site, se Michel Temer tiver de cair, ele cairá, porque se tornou
incompatível com um país que nutre a esperança de adentrar a modernidade.
A nota presidencial apenas
deveria ter dito que "Na Operação Lava Jato, o Executivo jamais
interferirá em suas decisões". A Lava Jato é a fiadora da estabilidade.
Por Mario Sabino/O Antagonista, ontem.