Acena se repete, semana sim, semana não, no Porto de Santos: os
caminhões-prancha chegam trazendo dezenas de velhas Kombis que são estacionadas
em um pátio e, depois, amarradas dentro de contêineres. Umas ainda cheiram a
tinta da restauração recente; outras têm aparência cansada, com cicatrizes de
quem acabou de deixar a labuta na feira. Em comum, o fato de serem parte das
426.715 Kombis fabricadas no Brasil entre 1957 e 1975.
São da geração que ostenta um
ressalto em V na frente — por causa desse bico e dos faróis que lembram olhos
arregalados, foram apelidadas de “corujinhas” pelos fãs de Volkswagen. Após
décadas dando duro por aqui, elas serão embarcadas para a Europa, onde curtirão
uma existência mais tranquila nas mãos de colecionadores. O que já foi
considerado lixo no Brasil virou moda lá fora e fez surgir um novo negócio.
Hoje, entre comerciantes sérios, aventureiros e especuladores, há no país em
torno de dez exportadores especializados em Kombis antigas, concentrados entre
São Paulo e Paraná.
-Ao longo de todo o ano passado,
mandei umas 50 dessas para a Europa. Hoje, embarco 50 por mês - revela B., que
é considerado o maior exportador de corujinhas do Brasil e prefere não ser
identificado (“Não tenho interesse em divulgar isso aqui...”). [...].
A maioria dos compradores (que
ironia!) é da Alemanha, o país que lançou a Kombi em 1950. As outras
encomendas, por ordem de volume, vêm da França, do Reino Unido, da Holanda e da
Bélgica.
-Europeus são muito desconfiados,
mas quando veem minha origem e as respostas nos idiomas deles botam fé no
negócio - jacta-se o belga para explicar a quantidade de corujinhas exportadas.
Outra justificativa para o
sucesso é o preço cobrado. Nos primeiros envios, B. gastava R$ 15 mil só com
despesas com a regularização dos documentos do veículo no Detran, os custos de
despacho nos portos de Santos e da Europa (Antuérpia, na Bélgica, ou Bremen, na
Alemanha), o frete, os impostos e o desembaraço na aduana. Hoje, experiente,
ele gasta apenas R$ 8 mil por carro.
-Minha margem de lucro em cada Kombi
é pequena. Ganho mesmo é na quantidade. Quem cobra muito alto não vende - afirma
o belga.
Ao fim e ao cabo, os clientes
europeus gastam, em média, de € 10 mil a € 15 mil (R$ 36 mil a R$ 54 mil) para
ter uma Kombi em razoável estado de conservação. Exemplares restaurados saem
por valores de até € 25 mil (R$ 91 mil), já com as despesas pagas. [...]. O
reflexo disso é que as corujinhas já estão inflacionadas no Brasil. Se até
cinco anos atrás era fácil encontrá-las por valores abaixo de R$ 10 mil, hoje é
comum ver anúncios de Kombis pré-1975 em bom estado por mais de R$ 30 mil. CONFRE
LÁ