*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Velhas Kombis brasileiras são exportadas para a Europa

Acena se repete, semana sim, semana não, no Porto de Santos: os caminhões-prancha chegam trazendo dezenas de velhas Kombis que são estacionadas em um pátio e, depois, amarradas dentro de contêineres. Umas ainda cheiram a tinta da restauração recente; outras têm aparência cansada, com cicatrizes de quem acabou de deixar a labuta na feira. Em comum, o fato de serem parte das 426.715 Kombis fabricadas no Brasil entre 1957 e 1975.
São da geração que ostenta um ressalto em V na frente — por causa desse bico e dos faróis que lembram olhos arregalados, foram apelidadas de “corujinhas” pelos fãs de Volkswagen. Após décadas dando duro por aqui, elas serão embarcadas para a Europa, onde curtirão uma existência mais tranquila nas mãos de colecionadores. O que já foi considerado lixo no Brasil virou moda lá fora e fez surgir um novo negócio. Hoje, entre comerciantes sérios, aventureiros e especuladores, há no país em torno de dez exportadores especializados em Kombis antigas, concentrados entre São Paulo e Paraná.
-Ao longo de todo o ano passado, mandei umas 50 dessas para a Europa. Hoje, embarco 50 por mês - revela B., que é considerado o maior exportador de corujinhas do Brasil e prefere não ser identificado (“Não tenho interesse em divulgar isso aqui...”). [...].

A maioria dos compradores (que ironia!) é da Alemanha, o país que lançou a Kombi em 1950. As outras encomendas, por ordem de volume, vêm da França, do Reino Unido, da Holanda e da Bélgica.
-Europeus são muito desconfiados, mas quando veem minha origem e as respostas nos idiomas deles botam fé no negócio - jacta-se o belga para explicar a quantidade de corujinhas exportadas.
Outra justificativa para o sucesso é o preço cobrado. Nos primeiros envios, B. gastava R$ 15 mil só com despesas com a regularização dos documentos do veículo no Detran, os custos de despacho nos portos de Santos e da Europa (Antuérpia, na Bélgica, ou Bremen, na Alemanha), o frete, os impostos e o desembaraço na aduana. Hoje, experiente, ele gasta apenas R$ 8 mil por carro.
-Minha margem de lucro em cada Kombi é pequena. Ganho mesmo é na quantidade. Quem cobra muito alto não vende - afirma o belga.

Ao fim e ao cabo, os clientes europeus gastam, em média, de € 10 mil a € 15 mil (R$ 36 mil a R$ 54 mil) para ter uma Kombi em razoável estado de conservação. Exemplares restaurados saem por valores de até € 25 mil (R$ 91 mil), já com as despesas pagas. [...]. O reflexo disso é que as corujinhas já estão inflacionadas no Brasil. Se até cinco anos atrás era fácil encontrá-las por valores abaixo de R$ 10 mil, hoje é comum ver anúncios de Kombis pré-1975 em bom estado por mais de R$ 30 mil. CONFRE LÁ