*Não fosse o amanhã, que dia agitado seria o hoje!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

“A Caminho do brejo”

“A colunista Sonia Racy revela no "Estadão" desta terça-feira que o projeto político de Renan Calheiros para 2017 é presidir a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Por si só, já é uma obstrução da Justiça” - Jorge Bastos Moreno/O Globo na terça (13)

Um país não vai para o brejo de um momento para o outro - como se viesse andando na estradinha, qual vaca, cruzasse uma cancela e, de repente, saísse do barro firme e embrenhasse pela lama. Um país vai para o brejo aos poucos, construindo a sua desgraça ponto por ponto, um tanto de corrupção aqui, um tanto de demagogia ali, safadeza e impunidade de mãos dadas. Há sinais constantes de perigo, há abundantes evidências de crime por toda a parte, mas a sociedade dá de ombros, vencida pela inércia e pela audácia dos canalhas...
Um país vai para o brejo quando políticos lutam por cargos em secretarias e ministérios não porque tenham qualquer relação com a área, mas porque secretarias e ministérios têm verbas - e isso é noticiado como fato corriqueiro da vida pública...
Um país vai para o brejo quando representantes do povo deixam de ser povo assim que são eleitos, quando se criam castas intocáveis no serviço público, quando esses brâmanes acreditam que não precisam prestar contas a ninguém - e isso é aceito como normal por todo mundo...
Um país vai para o brejo quando não protege os seus cidadãos, não paga aos seus servidores, esfola quem tem contracheque e dá isenção fiscal a quem não precisa.
Um país vai para o brejo quando os seus poderosos têm direito a foro privilegiado.
Um país vai para o brejo quando se divide, e quando os seus habitantes passam a se odiar uns aos outros; um país vai para o brejo quando despenca nos índices de educação, mas a sua população nem repara porque está muito ocupada se ofendendo mutuamente nas redes sociais. Trechos da crônica “A Caminho do brejo” de Cora Rónai/O Globo