"Alguém disse:
'Você é um homem de muita coragem'. Eu pensei: 'Será que sou?' Eu pensei que
não tenho coragem nenhuma, eu tenho é medo, e o medo nos faz alerta. Medo de
quê? De errar muito e decepcionar as instituições. As questões que enfrentei,
enfrentei por medo de errar, de me omitir, de decepcionar minha instituição
mais do que por coragem de enfrentar os desafios" Rodrigo
Janot, nesta terça-feira (5) durante sessão do Conselho Superior do Ministério
Público Federal em pronunciamento sobre a revisão do acordo de delação da JBS
O anúncio de
que o acordo de delação premiada da JBS poderá ser
revisto por omissões importantes é a maior derrota política do procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, em seu embate com o presidente Michel Temer
(PMDB).
Às vésperas de
entregar uma nova denúncia contra o peemedebista, o reconhecimento do problema
na apuração é um desastre para o procurador-geral.
Como ele mesmo
disse, o que foi descoberto pode vir a anular privilégios dados aos irmãos
Batista, mas não interferirá na validade das provas até aqui coletadas... Isso
pode ser verdade, juridicamente, embora certamente haverá contestações.
Do ponto de
vista político, contudo, fica reforçado o discurso do Planalto e de políticos
aliados a Temer de que os Batista são "bandidos" que teriam ou
manipulado os investigadores para obter benefícios ou coisa pior –como o que
transpareceu até aqui na relação do procurador Marcelo Miller com a JBS
insinua. [...]
O fato de que
vai deixar o cargo no próximo dia 17 também atrapalha a vida de Janot. Em vez
de concentrar-se exclusivamente no caso, terá de lidar com a agenda negativa e
as implicações graves para o trabalho de investigação da Operação Lava Jato.
Depois, o
problema será de Raquel Dodge, a nova procuradora-geral. Os olhos do mundo
político estarão sobre ela e na forma com que conduzirá os esforços da Lava
Jato. Quem a conhece aposta numa atuação mais discreta, mas tecnicamente rígida
e imune a concessões.
A flechada no
pé, para ficar na expressão imortalizada por Janot, coroa uma série de
acusações de açodamento, talvez motivado por messianismo político, direcionadas
ao procurador-geral, o que ele sempre negou.
Na vida pública,
atos finais costumam ter peso maior do que o conjunto da obra na hora de
avaliar uma carreira. Como dizem os chineses que receberam o antípoda Temer nos
últimos dias, basta um pedaço de carne podre para estragar todo um cozido. Janot
corre esse risco. – Por Igot Gielow/Folha – Leia
na íntegra
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