Prepare sua calculadora para dar
conta da quantidade de bilhões que vão aparecer neste artigo. Começo pelos R$
100 bilhões que o BNDES vai poder devolver ao Tesouro Nacional com autorização
do Tribunal de Contas da União. O TCU aprovou o pedido feiro pelo Ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, assim que ele assumiu o cargo. O BNDES vai poder
dividir em três parcelas (40 – 30 – 30) a transferência aos cofres da União.
Mas nem comece a se animar. Este
dinheiro não existe, pelo menos não como dinheiro que nós conhecemos, pronto
para ser gasto. As parcelas farão apenas a mágica de reduzir a dívida bruta do
Brasil no mesmo valor. Aliás, esta determinação faz parte do pedido do governo
e também da decisão do TCU. Qualquer uso diferente dos bilhões seria ilegal.
Por isso, governadores, nem sonhem com algum troco. [..].
Que bilhões são estes que estavam
no BNDES? Eles fazem parte dos mais de R$ 520 bilhões que o governo do PT
depositou no caixa do banco de desenvolvimento para que ele emprestasse no
mercado. Tudo começou em 2008, depois da crise financeira internacional. O
ex-ministro Guido Mantega resolveu usar o BNDES para suprir a demanda por
financiamentos num momento em que o mercado de crédito havia secado. As
transferências mais volumosas foram feitas na administração de Dilma Rousseff.
[...].
Eu avisei que a quantidade de
bilhões era grande. Aí você pode perguntar: serviu para alguma coisa? Não. Os
recursos emprestados pelo BNDES têm, teoricamente, o propósito de financiar o
investimento no país. As empresas tomam dinheiro mais barato para poder
aumentar sua capacidade de produção, ampliar o negócio.
Para piorar um pouco, o problema
extrapola a ponta do lápis da taxa de juros. As operações são obscuras, cheias
de coisas mal explicadas, como, por exemplo, a escolha das empresas que
receberam o maior volume de dinheiro. O BNDES já foi alvo de CPI, de pedidos de
quebra de sigilo pela Polícia Federal, perdeu direito a sigilo nas operações
feitas com a JBS (frigorífico) e está no meio das investigações da Lava Jato.
Desde que assumiu o banco, Maria
Silvia Bastos tem aberto as cortinas da instituição. Ela impôs mais rigor para
novos desembolsos, quer análises com micros detalhes para operações com grandes
empresas e elegeu a transparência como prioridade na gestão do banco. Ainda há
muito para se saber sobre o período da farra com dinheiro público que engordou
o caixa do BNDES e também daqueles escolhidos pelo governo do PT. Uma coisa é
certa, nestes R$ 100 bilhões que o governo vai receber de volta, ninguém vai
levar um centavo. Thais Herédia/O Globo – Leia
na íntegra