Um dia o
Internacional anunciou a contratação de um grande goleiro. Um goleiro tão bom que muita gente estranhou. Como um jogador
extraordinário assim acabara no Inter, e — pelo que se soube — por muito pouco
dinheiro? Mais estranho ainda: o grande goleiro não pedira um grande salário.
Aí alguém se lembrou de boatos que corriam sobre o jogador, que ele era um
entregador de partidas, um incorrigível subornável. E concluíram que ele não se
interessava pelo que ganharia no Inter, se interessava pelo que ganharia de
adversários no gol do Inter, deixando passar bolas defensáveis. Se interessava
pelo ponto.
São tantos os
escândalos envolvendo políticos no Brasil, tanto dinheiro rolando e tantos
favores sendo vendidos, que se pode pensar em mandatos e cargos públicos não
como oportunidades de servir à população, mas como pontos. Quanto mais
influente e destacado na hierarquia do poder, melhor localizado e lucrativo o
ponto do político. E corretores de jogo do bicho, vendedores de drogas,
mendigos e prostitutas sabem como é importante um bom ponto.
Pode-se até
fantasiar que um dia deputados, senadores e governantes dispensarão seus
salários e viverão exclusivamente de propinas, ou do que ganham nos seus
pontos. O que, além de acabar com toda retórica vazia sobre razões nobres para
se eleger e servir à nação, trará um grande alívio para os cofres públicos. A
Odebrecht e as outras grandes empresas corruptoras se encarregariam de pagar
aos políticos, para cada um de acordo com a localização do seu ponto. [...]. Luis Fernando
Verissimo/O Globo – leia na
íntegra
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